segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

II Série da Coleção Versões em Versos - Parte III

Recordar tem o mesmo sentido de “trazer a tona” lembranças que ainda permanecem vivas o bastante a ponto de descreve-las com detalhes. É no hipocampo que essas lembranças se encontram, a título de curiosidade é uma estrura que se localiza nos lobos temporais do cérebro. É neste ponto onde as lembranças são arquivadas, o que se pouco sabe é como se dá esse processo de armazenamento.
Nesta parte da série trouxe a tona uma lembrança viva, persistente...

Parte III

Valei-me meu Padim Ciço...
(segundo o filho)


Aquele homem parecia ser tão cheio de Deus, tão cheio de fé. Como foi cometer um ato contra a vida?
Não compreendo. Não aceito.

Por quê?
Por quê?
Por quê?         

Era humano, era bom. Todo homem é bom.
Recordo-me que aos domingos íamos à igreja. Lá, meus irmãos e eu, ficávamos impacientes, queríamos mesmo era brincar na praça da igreja, comprar pipoca, doces, mas logo que tentávamos sair ele nos olhava muito sério, tão logo ficávamos quietos. Aquele momento era de ficarmos atentos ao que o padre falava.
A cidade que morávamos era Juazeiro do Norte, Ceará, “graças à figura do Padre Cícero é considerado um dos maiores centros de religiosidade da America Latina, atraindo milhões de romeiros todos os anos.” *(1) Diante daquela figura do Padre Cícero eu vi meu pai orar, orou lavando a alma, certamente, aquele homem se arrependeu do que tinha feito. Sim, meu pai era um homem cheio de Deus, antes mesmo de cometer aquela fatalidade.
Valei-me meu Padim Ciço
Nóis que sofreu no sertão.
Teu povo, que pisa teu chão
Quer a tua benção.
Óia nóis, meu Padim Ciço
A luz que me alumeia
É a luz da tua intercessão.
Do alto do Horto
Eu vejo Ciço Romão
Valei-meu padinho
Estende a tua mão.

Padre Cícero... considerado o Cearense do século, santo popular dos nordestinos, fora prefeito de Juazeiro, vice-presidente do Estado. Em 1911 participou da sedição de Juazeiro, recebeu o título de revolucionário, logo tornou-se prefeito pela segunda vez. Meu pai era devoto do “Ciço Romão” que muito fez.
"Foi a ele que muitas vezes, Lampião se ajoelhou, aos seus pés contou histórias, pediu perdão e chorou. Bendito seja o romeiro que na fé e na oração, exalta o santo padroeiro no samba, no coco, no xote e no baião". (Trecho da canção "Deus Menino" *(2)

...É preciso frisar, diante daquela figura do Padre Cícero eu vi meu pai orar.

Valei-me meu Padim Ciço...
[continua...]
*(1) Wikipedia
*(2) Chico Silva

Krislanio Alves

5 comentários:

Tamires Santos disse...

Bacana

Lindo o seu post...

Existem coisas que nunca devem ser esquecidas.

Um beijo.

M!sunderstood

Cápsula de Pimenta disse...

Me deixou sem palavras...
Maravilhosa postagem!

Abraços, Cápsula de Pimenta

Thiago Cavalcante disse...

Fé é algo recorrente a todos, mas nem todos se utilizam desse dom.

Meu abraço.

Stephane Many disse...

Ei Gatinho
Passei por aqui
amei teu blog e agora tô seguindoo
beijoos
e Sucesso !

http://apalhacinha.blogspot.com

Gabriela Marques de Omena disse...

Além de belo teu poema é cheio de cultura. Meu pai, nordestino, sempre roga por Padre Cicero, mas eu não sabia que ele era um santo popular, muito menos que fora prefeito e vice-presidente do estado.

Adoro teus versos!
Continue, continue.