domingo, 30 de janeiro de 2011

Aquele Beijo...



Aquele beijo
Me deixou meio sem jeito...
Não... Não tem mais jeito...
O seu jeito...
Tornou seu beijo eleito...
O melhor de todos os beijos...

E me tornou sujeito afeito
A este beijo que não fora o primeiro de meus beijos
Porém fora único e tão perfeito...

Se pudesse algum feito...
Fazer-me provar este beijo...
Tiraria proveito...
Tornar-me-ia satisfeito.

Sentimento não guardaria no peito...
Afinal, seria apenas mais um beijo.
Todavia, no pensamento guardaria...
O melhor dos feitos...
O melhor de todos os beijos.

Mas se não tem jeito
Guardarei aquele único beijo...
Tão perfeito.

Krislanio Alves

domingo, 23 de janeiro de 2011

Coleção Versões em versos - Parte VIII



Onde a estrada vai nos levar?


O que virá?
O que virá?

“Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá
O fim dela ninguém sabe
Bem ao certo onde vai dar
Vamos todos...”



A estrada nos levara a Gurupi, Tocantins. Definitivamente, tudo novo.

Era nova casa.
Uma nova escola.
Novos amigos.
Novo...
Novo...

Mas o novo não agradava, não convencia, afinal não era fácil esquecer tudo que ficou pra trás.
Engraçado, meu herói fazia de tudo para que desta cidade passássemos a gostar. Mas no fundo nem ele mesmo gostava.


A inquietude
Não era virtude.
Logo aquelas terras voltou.
Aquele povo ele desafiou.
Parece até que esqueceu,
Que aquele povo daquela terra o expulsou.

Retornou às terras tocantinenses.
Mas logo sentiu saudade da sua gente.
E mais uma vez ao nordeste regressou.

Deixamos tudo pra trás, e lá deveria ficar. Mas como esquecer os parentes que lá deixamos? Os pais de minha mãe, seus irmãos, tinham permanecido naquela cidade. Voltar a morar não dava, mas pensávamos ser possível visitar... Era nossa gente.

Gente que como a gente entende o que se passa em nossa mente...

Em março de 2003
Meu herói quis voltar mais uma vez aquelas terras.
Ele não ia às escondidas.
Toda a cidade o via.


Aquele dia, daquele mês, daquele ano...

15 de março de 2003, 74º dia do ano no calendário Gregoriano, 75º em anos bissextos.

Existem dias que não são esquecidos...

15 de março de 1992 - Um terremoto mata 800 pessoas na Turquia.
15 de março de 2000 - Em uma sentença inédita, um júri de Nova York declara culpado de três acusações de estupro um homem não identificado baseado em seu DNA.
15 de março 2001 - Três explosões destroem a plataforma P-36 da Petrobrás na bacia de Campos. Dez pessoas morreram.
15 de março de 2003 – mataram o meu heroi (mataram o meu pai).

“Nessa estrada não nos cabe
Conhecer ou ver o que virá...”


Se eu soubesse onde essa estrada iria dar...
Eu seria o heroi.
Desses que salvam.

Aquela cidade que deixamos pra trás, ele, meu pai, insistiu em voltar (era só uma visita [mais uma], pra saudade matar, afinal, era lá o seu lugar, era filho daquelas terras. Naquelas terras agora iria descansar.
Pai, meu pai, porque foi voltar?
“E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...”

Krislanio Alves


sábado, 22 de janeiro de 2011

Coleção Versões em versos - Parte VII


Apenas mais uma recordação

O povo tornou-se opressivo.
Era hora de partir. (Aqui estamos)

Aquele instante agressivo o tornara fugitivo.
Era definitivo?
Será que um dia naquela terra eu vou voltar?
Permita meu Padim Ciço regressar...
Uma nova história?
Um recomeço...

Lembro-me de quando criança, naquela escola, aquelas professoras que ainda recordo-me de seus nomes... Ela, Graça, que me ensinara às primeiras letras. A outra, Gorete, que me ensinara à naturalidade dos números, tão reais... Não contém fração de unidades, tão complexos, racionais.

Lembro-me do primeiro caderno. Palavras tão mal escritas, borradas, afinal, estava ainda no processo de aprendizagem. A vida me fez perceber que aqueles que nos agraciam com o aprendizado nos ensinam alem das palavras, dos números, nos ensinam a viver. Fascinante. Quando naquele caderno erramos, logo, nos ensinam (motivam) a apagar e reescrever, refazer.


Se nos momentos de máxima expressão de dor as palavras forem suprimidas... voltemos a infância. Um pouco antes de aprendermos as primeiras palavras...

“Numa folha qualquer
Eu desenho um sol amarelo
E com cinco ou seis retas
É fácil fazer um castelo...” [1]

Trata-se de RECOMEÇAR.

Uma nova história? Talvez.
Prefiro acreditar ainda em um novo capítulo.
Existe um enredo, uma susseção de acontecimentos.
É preciso desvencilhar-se desta zona de conflitos.

A dor extrema nos dá a liberdade de encerrar um capítulo e iniciar outro.



Se ao construirmos um novo capitulo nos dermos conta de que estamos perdidos e sozinhos é preciso seguir...

“Um menino caminha
E caminhando chega no muro
E ali logo em frente
A esperar pela gente
O futuro está...” [1]

Toda estrada nos leva a um lugar...
Se existe mais de uma direção
Siga o coração.
(Eu segui o meu heroi).

“E o futuro é uma astronave
Que tentamos pilotar
Não tem tempo, nem piedade
Nem tem hora de chegar
Sem pedir licença
Muda a nossa vida
E depois convida
A rir ou chorar...” [1]

O que virá?
As palavras estão se organizando... e contruindo este capitulo...
Enumeremos as páginas, mas não limitemos... quanto mais páginas mais teremos o que o contar. É a nossa história...

[1] Aquarela - Toquinho
Krislanio Alves


 

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Águas de Janeiro



Do alto
Desceu o barro.


O rio que corre
Leva gente que morre...
É a dura realidade daquele que não teve sorte.

Deus... Deus...

Por que isso?

É o fim dos tempos...
Socorro!
Perdi minha mãe... Meu pai.
[lágrimas]

            Minha vida acabou...                                                                                                                [...]

Pessoas desacreditas, desesperadas, frustradas.
É o retrato deste fato.
Ressalto...
É a voz do povo, muitas vezes muda, mas que chega a compreensão daqueles que vêem a situação. O povo chora aquela dor. Afinal ainda existe amor.
Mas o que não chega à compreensão é a ordem inversa da situação. Pais que enterram seus filhos, talvez seja um modo de dizer, porque muitos nem se quer tiveram este direito.

O povo chora e implora por misericórdia.


A natureza voltou-se contra a dureza daquele povo que no pé do morro encostou-se.

O homem da natureza não cuidou
E a si próprio matou.

Uma catástrofe potencializada
A serra juntou-se ao rio


Não são águas de março que fecham o verão
São águas também do rio que matam aquela população.

Águas de Janeiro
Que caem no Rio de Janeiro.



Ó Deus Jano
Que destes origem ao nome deste mês do ano.
“Deus das Portas”
Fecha as comportas
Já não basta de gente morta?

Não existe se quer a possibilidade de precisar o número de mortos, afinal o número é atualizado constantemente. Situação que nos deixa triste e que nos faz perceber o nosso espírito de solidariedade em meio à fatalidade.

Estas águas de janeiro
‘Deixou’ muitos sem paradeiro.
Mas ainda há esperança
Afinal, esta, não se cansa.



Para estes que esperam... É preciso acreditar em milagres.

A desgraça não veio de graça.
Da lágrima veio a graça.
É milagre que surge da desgraça.


Pessoas Renascem.
E para estes a vida Recomeça.



Baseado na Catástrofe que atingiu a região serrana do Rio.

Krislanio Alves

domingo, 16 de janeiro de 2011

II Série da Coleção Versões em versos - Parte VI

Parte VI
Adeus... Amigos não dizem...

Gurupi, do Tupi “Diamante Puro”, trata-se de um município do Tocantins. Considerada ainda Capital da Amizade. População estimada em pouco mais de 75 mil habitantes.
Em julho de 2001 vim parar nesta cidade.
Se ao menos pudesse me despedir de meus amigos...
Um até logo apenas!
Que dura pena.
Esta era sentença!
O povo não teve pena.
A cidade tornou-se tão pequena.

Juazeiro do Norte, Ceará, tem sua população estimada em 250 mil habitantes. A cidade que amava, em peso, nos condenava...

Adeus... (?)
Aos amigos meus.

A Deus...
Olha para os filhos teus.
Os amigos que me deu.

Se pudesse ao menos ter dito aos meus amigos o quanto são especiais... Amigos sempre deixam um pouco deles em nós.

Chegam como quem não quer nada...
Roubam a cena.
E quando achamos que não somos nada
Tornam nossa alma serena.

São poucos os que nos deixam bobos...
Têm o poder extraordinário de nos retirar do lugar comum.
Do lugar de dor.
Enchem-nos de amor.
Amor fora do comum.

Amigo...
É abrigo.
Te sigo... não busco outro caminho...
Não consigo.
Amigo,
Sou contigo...
Está comigo.
Meus amigos não me abandonaram, eu os abandonei.
Não pequei.
Mas paguei... (por um crime que não cometi)
Errei? Já não sei. Sei que paguei. Sim, meus amigos deixei.

Deus, por que não me deu um momento apenas para dizer adeus?

Aquela cidade que me formara nordestino arretado,
Deixei sem ser notado.
Sai calado.

Amigos... Têm o poder ainda de nos fazerem lembrar quem somos quando nos outros fazem perder a identidade.
Por muitas vezes esqueci quem eu era. Deixei de ser criança...


Sei que deixei um pouco de mim...
Mas levei uma parte deles comigo...
Amigos se completam.

Hoje, estou na Capital da AMIZADE, esta que a partir do seu reconhecimento não me deixa esquecer dos amigos que lá deixei.
“... seja o que vier, venha o que vier, qualquer dia, amigo, eu volto a te encontrar, qualquer dia, amigo a gente vai se encontrar...” (1)
Amigos não dizem Adeus. 
(1) Canção da América - Milton Nascimento
Krislanio Alves

sábado, 15 de janeiro de 2011

II Série da Coleção Versões em versos. Parte V

Parte V

O povo quer Justiça...




Atitudes tendem a mudar o rumo de nossas histórias.
Há ainda quem acredite na força do destino. Estava escrito.

Prefiro acreditar que todas as minhas ações e até mesmo ações dos outros tendem a mudar radicalmente o rumo da história que a gente tece.


O fato se deu em 1999.
Após a discussão meu pai dirigiu-se até a nossa casa. Quanta ira. Voltou-se para minha mãe e logo pediu a sua arma, minha mãe desesperada, logo negou. Logo, também, percebeu a sua ira potencializar. O que ela podia fazer se não ceder? Ela escondia aquela arma, sabia dos riscos que corríamos com ela em casa, mas o meu pai parecia não saber.

“Muitas crianças morrem vitimadas por armas de fogo no Brasil”


Portando aquela arma, retornou ao bar...
Já está consumado...

Após o feito ligou pra minha mãe. “Eu matei... Agora eu preciso fugir.”

Definitivamente,
Este não era o meu herói...
O que teria acontecido?
Até hoje não tenho respostas.

No mato
Se escondeu
Veja o que aconteceu,
Correu, correu...
Mas sabe no que deu?
Cedeu...

Resolveu se entregar...
O tempo que ficou foragido percebeu o que tinha feito, afinal ele “não matou um passarinho, matou um homem”.
Passou dias escondido. E quando queria nos ver, logo chamava um amigo e no porta-malas do carro se escondia. Ia até a nossa casa. Passava alguns dias conosco.  Que situação triste. Eu vivi tudo isso.
Eu vi em minha casa um buraco ser feito e era lá que iria se esconder caso a policia aparecesse enquanto lá estivesse.
Era sofrimento.
Não tinha jeito. Não suportou. Se entregou.

11 dias, sim, o total de dias que esteve preso em uma cela pequena dividindo aquele pequeno espaço com mais sete pessoas.

Dias desesperadores...
Dias longos...
Passado esses dias, sentiu a liberdade.


Em outro momento saiu novamente o pedido de prisão preventiva.

O que fazer?
O jeito era se esconder.


Afinal,
Pra’quele lugar
Não queria voltar.

Às escondidas não permaneceu... Logo deu as caras. Voltou as suas atividades normais, mas nada era normal.Retornou ao trabalho a sua família. O que o dinheiro não faz, não é autoridades?

A justiça falhou, mas o homem não perdoou. Meses se passaram e o povo não esqueceu. E com faixas pela cidade não nos deixaram também esquecer. Faixas com desenhos em gotas de sangue: Queremos justiça!

QUEREMOS JUSTIÇA! QUEREMOS JUSTIÇA!


Justo seria se meu heroi respondesse pelo que fez... [...]

Aquela cidade,
Que da minha vida,
Fez parte,
Tivemos que abandonar,
Por causa da fatalidade.


Prefiro acreditar que todas as minhas ações e até mesmo ações dos outros tendem a mudar radicalmente o rumo da história que a gente tece.

[continua...]

Krislanio Alves



sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

II Série da Coleção Versões em Versos - Parte IV

Parte IV
Outras recordações eram preferíveis esquecer, ...


A vala...
(Segundo o filho)

Aquela vala em minha casa,
No cômodo que não trazia incômodo
Fora feita para abrigar.
Mas quem lá iria entrar?

Naquela vala escura, não muito funda, alguém iria se acomodar.

Aquela vala eu vi ser feita.
Um pouco estreita,
Todavia cabia,
O sujeito que lá entraria.

Por ser criança não entendia.
Naquela vala meu herói se esconderia,
Pode um herói se esconder?
Cadê o seu poder?

Herói...

Meu herói não tinha capa vermelha,
Nem vestes azuis.
Muito menos escudo, ou espada.
Não voava, não tinha asas.
Mas tinha poderes. Eu sei que tinha.
Que injustiça...
Não fazia parte da Liga.
Contudo era o meu herói.

Aquela vala eu vi ser escondida,
Com uma tábua pronta pra ser erguida.

A criança não entendia.
Mas jamais esqueceria o que via.

Outrora com mais idade,
Lembraria que naquela cidade,
Naquela casa,
Fora construída uma vala.

Não se tratava de um sujeito suspeito, oras, não havia crime perfeito, o que fora feito já o condenava.
Se necessário fosse naquela vala entrava, mas não teria novamente a sua liberdade cerceada.

Não. Não foi necessário se esconder.
Muita coisa ainda estava para acontecer.

[continua...]

Krislanio Alves

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

II Série da Coleção Versões em Versos - Parte III

Recordar tem o mesmo sentido de “trazer a tona” lembranças que ainda permanecem vivas o bastante a ponto de descreve-las com detalhes. É no hipocampo que essas lembranças se encontram, a título de curiosidade é uma estrura que se localiza nos lobos temporais do cérebro. É neste ponto onde as lembranças são arquivadas, o que se pouco sabe é como se dá esse processo de armazenamento.
Nesta parte da série trouxe a tona uma lembrança viva, persistente...

Parte III

Valei-me meu Padim Ciço...
(segundo o filho)


Aquele homem parecia ser tão cheio de Deus, tão cheio de fé. Como foi cometer um ato contra a vida?
Não compreendo. Não aceito.

Por quê?
Por quê?
Por quê?         

Era humano, era bom. Todo homem é bom.
Recordo-me que aos domingos íamos à igreja. Lá, meus irmãos e eu, ficávamos impacientes, queríamos mesmo era brincar na praça da igreja, comprar pipoca, doces, mas logo que tentávamos sair ele nos olhava muito sério, tão logo ficávamos quietos. Aquele momento era de ficarmos atentos ao que o padre falava.
A cidade que morávamos era Juazeiro do Norte, Ceará, “graças à figura do Padre Cícero é considerado um dos maiores centros de religiosidade da America Latina, atraindo milhões de romeiros todos os anos.” *(1) Diante daquela figura do Padre Cícero eu vi meu pai orar, orou lavando a alma, certamente, aquele homem se arrependeu do que tinha feito. Sim, meu pai era um homem cheio de Deus, antes mesmo de cometer aquela fatalidade.
Valei-me meu Padim Ciço
Nóis que sofreu no sertão.
Teu povo, que pisa teu chão
Quer a tua benção.
Óia nóis, meu Padim Ciço
A luz que me alumeia
É a luz da tua intercessão.
Do alto do Horto
Eu vejo Ciço Romão
Valei-meu padinho
Estende a tua mão.

Padre Cícero... considerado o Cearense do século, santo popular dos nordestinos, fora prefeito de Juazeiro, vice-presidente do Estado. Em 1911 participou da sedição de Juazeiro, recebeu o título de revolucionário, logo tornou-se prefeito pela segunda vez. Meu pai era devoto do “Ciço Romão” que muito fez.
"Foi a ele que muitas vezes, Lampião se ajoelhou, aos seus pés contou histórias, pediu perdão e chorou. Bendito seja o romeiro que na fé e na oração, exalta o santo padroeiro no samba, no coco, no xote e no baião". (Trecho da canção "Deus Menino" *(2)

...É preciso frisar, diante daquela figura do Padre Cícero eu vi meu pai orar.

Valei-me meu Padim Ciço...
[continua...]
*(1) Wikipedia
*(2) Chico Silva

Krislanio Alves